A catedral de São Paulo
Por Deus! que nunca se acaba
– Como minha alma.
É uma catedral horrível
Feita de pedras bonitas
– Como minha alma.
A catedral de São Paulo
Nasceu da necessidade
– Como minha alma.
Sacro e profano edifício,
Tem pedras novas e antigas
– Como minha alma.
Um dia há de se acabar,
Mas depois se destruirá
– Como o meu corpo.
E a alma, memória triste,
Por sobre os homens arisca,
Sem porto.
... os que esperam, os que perdem
o motivo, os que emudecem,
os que ignoram, os que ocultam
a dor, os que desfalecem,
os que continuam, os
que duvidam... coração,
Afirma, afirma e te abrasa
Pelas milícias do não!
ANDRADE, Mário de. Poesias Completas. São Paulo: Martins Editora, 1955. p. 402-403.