IARA, A MULHER VERDE

Neste país de coisas em excesso

o sol me agride, o azul passa da conta.

No entanto, os poucos beijos que te peço

o teu amor futuro me desconta.

De tanto céu tenho a cabeça tonta.

O meu jornal é todo em verde impresso.

Só tu, a quem já um pássaro amedronta,

te fechas no mais íntimo recesso...

No país do excessivo, és muito pouca.

Vê a borboleta jovem, como esvoaça.

Vê como nos convida a manhã louca!

Por que seres assim, se tudo é assombro,

se a própria nuvem branca - e com que graça –

só falta vir pousar em nosso ombro?

BRAGA, Rubem (org.) Cassiano Ricardo - Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p.9.

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