Simbolismo

1893

MARCO

Obra

MISSAL E BROQUÉIS (1893)

Autor

Cruz e Sousa (1861-1898)

CONTEXTO HISTÓRICO

O fim do século XIX foi profundamente marcado pelo avanço científico e a corrida desenfreada do capitalismo industrial em busca da tecnologia e matéria-prima. Era também a busca de novas tendências e caminhos, apesar de haver um certo pessimismo com relação ao século vindouro, e o Brasil passou por mudanças expressivas dentro de sua estrutura política, econômica e social. A abolição da escravatura (1888) não assegurou o direito de igualdade e civilidade aos negros, acentuando o problema da miséria no país. Revoltas como a "A guerra de Canudos" e a "Revolta da Armada" refletiam o descontentamento com as condições sociais vigentes. O império decadente deu lugar a uma república (1889) que favorecia diretamente o sudeste do Brasil, com a política do "café-com-leite" (domínio alternado de presidentes mineiros e paulistas). As cidades, com seus centros culturais e comerciais aos moldes da Europa (principalmente de Paris), se preocupavam com o inchaço de suas periferias, onde estava a miséria dos negros livres e das massas de imigrantes, provenientes principalmente da Europa e Japão, e que surgiram para mudar o perfil do povo brasileiro, principalmente no sul do país. A industrialização, ainda em estado fetal, e a cultura à moda francesa da elite contrastavam com uma nação tipicamente rural e analfabeta que enfrentava os horrores das pestes e epidemias como a febre amarela, dizimando milhares de pessoas.

CARACTERÍSTICAS

O Simbolismo surge no final do século XIX como movimento de retomada de alguns ideais do Romantismo, bem como de oposição ao Parnasianismo, Naturalismo, correntes literárias apreciadas pela elite social. Apesar disso, conserva algumas peculiaridades parnasianas, como a estrutura dos versos, o vasto uso do soneto, e a preciosidade no vocabulário. Sua poesia, no entanto, vai mais além. Há a constante busca de uma linguagem mais rica, repleta de novas palavras, com o emprego de novos ritmos que associem de forma harmoniosa a poesia à música, explorando muito o uso da sinestesia, das aliterações, ecos e assonâncias.

O poeta simbolista não quer somente cantar e evocar suas emoções. Ele quer trazê-las de uma forma mais palpável para o texto, para que possam ser sentidas em sua plenitude. Por isso, o uso da sinestesia, isto é, a associação de impressões sensoriais distintas, é amplo. Há também a forte ligação com as cores, ressaltando as sensações que provocam no espírito humano. A cor branca é sempre a mais presente e já sugere, entre outras coisas, a pureza, ou o opaco, indiciando a presença de neblina ou nuvem e tornando as imagens poéticas mais obscuras.

Obscuridade, aliás, é uma forte característica simbolista: a realidade é revelada de uma forma imprecisa e vaga. Não há a preocupação de nomear os objetos, e sim evocá-los, sugeri-los. É o emprego do símbolo, que liga o abstrato ao concreto, o material ao irreal. Servindo como ponte entre o homem e as coisas, o símbolo preserva o domínio da intuição sobre a razão, bem como a exaltação das forças espirituais e místicas que regem o universo, contrária ao Cientificismo, ao Positivismo e ao materialismo naturalista e parnasiano. É o culto ao sonho, ao desconhecido, à fantasia e à imaginação, numa busca pela essência do ser humano, com todos os seus mistérios, seu dualismo (espírito e matéria) e seu destino frente à vida e à morte.

A poesia, então, ganha o tom subjetivista que a aproxima muito do movimento romântico, disposto a explorar e sentir tudo o que há entre a alma e a carne, entre o céu e a terra. O poeta se entrega muitas vezes ao seu inconsciente e ao subconsciente para estar mais próximo dos segredos que ligam o homem a Deus. Esse caminho, por vezes alucinado, leva ao isolamento, à solidão, à loucura e à alienação, evidenciando um clima mais pessimista, mórbido e algumas vezes satânico. Rompendo com a linearidade do texto, dando voz ao fluxo da consciência e trabalhando de forma mais desarticulada a palavra e seu significado, o Simbolismo antecipa características que seriam marcantes dentro do Modernismo.

No Brasil, o movimento simbolista não alcançou o êxito obtido na Europa, devido ao forte predomínio das tendências parnasianas em nossa literatura. Entre os poetas simbolistas, destacam-se as obras de Cruz e Sousa, autor de nossa primeira obra simbolista Missal e Broquéis e Alphonsus de Guimaraens, o mais místico de nosso poetas.

BIBLIOGRAFIA

Previous Next