O cafezal é a soldadesca verde
que salta morros na distância iluminada
um dois um dois, de batalhão em batalhão,
na sua arremetida acelerada
contra o sertão!
Manhã de terra roxa.
manhã de estampa, ou cromo, onde a fumaça
de um trem que passa risca o céu de fogaréu.
Parece que há, nos clarins da alvorada,
alguma coisa de marcial. Longas palmeiras
lembram lanças fincadas na paisagem,
como se andasse galopando em plena serrania
uma legião alvorotada de bandeiras.
Como um zunzum de mamangava ouve-se o estrondo da cachoeira
a vida inteira a bater bumbo, a bater bumbo, a bater bumbo.
Avanhandava.
Um grande exército colorido de imigrantes,
de enxadas a brilhar ao sol revolve o chão
dando a ilusão de que a lavoura é sangue vivo
e a terra nova revolvida é um coração...
Um dia de verão, em luminosa pincelada,
inaugurou agora mesmo a nova estrada.
Acompanhando a estrada em douda disparada
os postes de carvão como espantalhos
levam seus fios telegráficos sobre os ombros.
As casas dos colonos são cartazes muito brancos
encarreirados no silêncio dos barrancos.
Bate o sol no tambor de anil do céu redondo.
O dia general que amanheceu com o punho azul cheio de estrelas,
com dragonas de sol nos girassóis
comanda os cafeeiros paralelos
de farda verde e botões rubros e amarelos.
Soa nos morros o clarim vermelho da manhã.
Soldados verdes! rataplã.
BRAGA, Rubem (org.) Cassiano Ricardo - Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p.26-28.