Ouvi já bastam: chuvas e cincerros,
pátios de lutos, comemorações,
recanto abandonado, folhas secas.
Seu escudo ritual entre canções,
lume sobre as espigas, no sorriso,
conta seu fim de pétalas alertas.
Que perfeição de lua e de ginetes,
em fundos alcantis! Neste galope,
a cidade futura era entrevista.
Um peito complacente sobre os ventos,
indicava missões e travessias,
percursos de querer e curativos.
Entretanto, eis a tarde, larga tarde,
e as raízes do vento; meditávamos:
glória da paz, a tarde nos jardins.
E penetrava entre as colunas ósseas,
junto ao cravo enlutado, ídolo negro,
mas não parava a sua face de humo.
Dir-se-ia o próprio tempo alto e sereno.
Eu o sabia andando entre os espaços
para o azul solitário, para: eis-me.
Pedi meus pólos, sim, para olvidá-los
nas distâncias dos dias lacerados;
queria decliná-los – reacendi-me.
Disse-me: antecipai. Prévios chegaram.
Eram premonitórios, eram partos.
Na curva antegozada repousaram.
Já os escuto. São quantos? Nossos rostos.
Nossas mãos com alguns mortos, nossas costas
derribadas arenas. Polegares.
COUTINHO, Afrânio (org.). Jorge de Lima. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, vol. I. p.895-901.