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Raiz: definição

A Lingüística reconhece que a palavra não é a unidade mínima de análise do significado, constituindo, antes, uma estrutura (em vez de mera seqüência) de elementos menores, estes sim indivisíveis. Esses tijolinhos mínimos dotados de algum tipo de significado são chamados morfemas (= "unidade de forma"). Quando decompomos "re+des+cobr+i+ment+o", o que fazemos é exatamente espelhar a seqüência (e não a estrutura) dos morfemas da palavra.

Como também ocorre nas obras de engenharia, cada morfema acaba tendo, mais que um significado, uma função específica na construção do significado de uma palavra. São algumas dessas funções as de determinar o gênero (masculino, feminino ou neutro) e o número (singular ou plural) da palavra ou ainda caracterizar sua classe morfossintática (por exemplo, a terminação "-ar" faz de "cantar" um verbo). Funções como essas são chamadas gramaticais porque é em termos delas que as regras gramaticais da língua estariam "escritas" (por exemplo, regras [i] de concordância, [ii] de posicionamento das palavras em relação às outras e, de um modo geral, [iii] de combinação de palavras para obter uma sentença bem-formada). Entenda que a grande maioria dessas regras jamais precisa ser ensinada na escola visto que um falante nativo as aprende inconscientemente ao adquirir a língua. Por exemplo, ninguém precisa de uma aula em que se ensine que é preferível "atirei o pau no gato" a "atirei pau o no gato", mas creia que há aí uma regra, não válida para todas as línguas.

Os morfemas com alguma função gramatical são chamados morfemas gramaticais. As raízes, por sua vez, são todos os (muitos) outros morfemas que não são gramaticais. Resta-lhes tão-somente a função referencial para desempenharem. Trata-se exatamente de referenciar, apontar, simbolizar algo que estaria fora da língua (no sentido de não estar sob suas regras gramaticais) e pertenceria à realidade ou à forma como a língua a recorta. Por exemplo, "cobr" seria a única raiz em "redescobrimento", assim como "pedr-" em "pedreira" e "pedra".

Apesar de terem essa função única, as raízes constituem a classe mais numerosa de morfemas. Trata-se, na verdade, da única classe aberta, no sentido de que pode se expandir à medida que novas noções vão surgindo ou sendo aprendidas. Pode-se dizer que a flexibilidade das línguas humanas se deve substancialmente à diferença entre o grande e possivelmente crescente número de raízes e um reduzido e relativamente fixo repertório de morfemas gramaticais, permitindo que muitas e muitas palavras possam ser compreendidas e combinadas a partir de relativamente poucas regras morfológicas e gramaticais.

O termo "raiz" é sinônimo de "semantema", "lexema" ou ainda "morfema lexical", de acordo com a linha teórica considerada.

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