Introdução

Como anda o conhecimento de inglês dos brasileiros?

Dados do World Economic Outlook, do FMI (2013), listam, atualmente, o Brasil como a sétima maior economia do mundo, com um PIB de US$2.396 trilhões. De acordo com um levantamento feito pela The Economist (2013), desde 2009, o crescimento dos BRICS (grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) corresponde a 55% do crescimento da economia mundial. O cenário econômico atual é extremamente favorável para que o Brasil aumente sua influência mundial.

Todavia, no que concerne à capacidade de se comunicar globalmente, o país consta em uma posição bem mais modesta. Segundo uma pesquisa da GlobalEnglish (2012), o Brasil ocupa a 67ª posição das 76 nações analisadas, no que diz respeito à fluência de inglês em um ambiente empresarial. Mas não é apenas no ambiente empresarial que os brasileiros mostram-se deficitários em relação ao conhecimento da língua inglesa. No Índice de Proficiência em Inglês, estabelecido pela agência Education First (EF), o Brasil, em 2012, foi classificado na 46ª posição de 54 países, sendo agrupado na faixa de países com proficiência muito baixa em inglês (Education First, 2012).

É sabido que, inevitavelmente, a aquisição de L2 envolve a transferência de conhecimento de L1 para L2. No que diz respeito à pronúncia, ocorre a transferência de padrões do sistema fonológico da L1 para a L2 e, também, a transferência de padrões de correspondência entre letra e som da L1 para a L2 (ZIMMER & ALVES, 2006). De tal forma, o sotaque estrangeiro pode ser caracterizado pela ativação de padrões acústico-articulatórios idênticos ou semelhantes aos da L1 em vez de padrões da L2, uma vez que o aprendiz tende a tratar as unidades acústico-articulatórias da L2 como se fossem da L1 (ZIMMER, 2004). A Figura 1 ilustra um esquema de diálogo entre um nativo e um aprendiz, indicando como a transferência afeta a representação que o aprendiz tem da língua estrangeira:


Figura 1: Esquema de um diálogo entre um nativo e um aprendiz.

O que pretendemos fazer?

Este projeto busca trazer contribuições para a melhoria desses índices. O objetivo é desenvolver um reconhecedor de pronúncia para falantes do português brasileiro (PB) aprendizes de inglês, chamado Listener, que seja capaz de fornecer ao usuário feedback, em tempo real, sobre a qualidade de sua pronúncia. Recursos semelhantes já foram desenvolvidos para outras línguas, como o japonês (Tsubota et al., 2004), o espanhol (Reis & Hazan, 2011), o holandês (Strik et al., 2008) e o francês (Genevalogic, 2006). No entanto, para o PB, há ainda uma lacuna a ser explorada.

Reconhecedores automáticos de pronúncia podem fornecem novas oportunidades para a prática da proficiência oral. Há diversos trabalhos que comprovam que, no que diz respeito ao ensino de pronúncia de L2, quando os estudantes possuem feedback corretivo online sobre sua pronúncia, eles conseguem evoluir mais rapidamente no aprendizado da língua-alvo (LONG, 1983; LYSTER & SAITO, 2010; NORRIS & ORTEGA, 2000). Reconhecedores automáticos de pronúncia podem propiciar a avaliação da pronúncia do aprendiz, com baixo custo, além de serem capazes de fornecer feedback individual em tempo real. Na realidade, tais sistemas conseguem fazer com que alunos aprendam a pronúncia de palavras da língua-alvo a um passo similar àqueles que frequentam salas de aula tradicionais (NERI et al., 2008).

Qual é a hipótese de pesquisa?

A nossa hipótese de pesquisa é que é possível construir um reconhecedor de fala eficiente para analisar a pronúncia de inglês de falantes nativos do português brasileiro, através de:

  • (i) uma classificação de erros de pronúncia que leve em conta a transferência de padrões de L1 para L2;
  • (ii) um modelo acústico que agregue dados de fala do inglês tanto de nativos, quanto de aprendizes;
  • (iii) um dicionário de pronúncia que contenha a transcrição das pronúncias desviantes do aprendiz; e
  • (iv) um modelo de língua que condiga com a sintaxe do aprendiz.

Um sistema de treino de pronúncia de inglês voltado para brasileiros

O Listener busca se alinhar com a literatura recente de aquisição de L2, que leva em consideração a fonologia e a fonética do PB no ensino da pronúncia do inglês. Fundamenta-se, portanto, na análise dos aspectos da pronúncia do inglês que, de fato, devem ser enfatizados pelos falantes de PB, no intuito de assegurar a compreensão e a eficiência comunicativa de sua pronúncia. A seleção dos erros de pronúncia se baseia nos trabalhos de Godoy et al. (2006), Zimmer et al. (2009) e Cristófaro-Silva (2012). Tais trabalhos estabelecem uma metodologia de ensino de pronúncia inglês que considera o fato de o aprendiz tender a transferir, para a língua-alvo, os padrões fonéticos e fonológicos que existem em sua língua nativa, no caso, o PB. No total, dez tipos de erros de pronúncia foram selecionados:


Figura 2: Erros de pronúncia selecionados.

Disponibilização dos recursos

Todos os recursos utilizados na construção do Listener serão disponibilizados gratuitamente na página do Listener, obedecendo-se às licenças dos softwares e corpora utilizados, bem como às regras de propriedade intelectual da Universidade de São Paulo (USP).

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